terça-feira, 15 de março de 2005

Reconstrução da cidade

A catástrofe deixou os escombros e os túmulos, onde descansam os sonhos do dono. Que descansem em paz e deixem-nos em paz. Eram sonhos de um futuro onde cabiam uma família, filhos, uma casa espaçosa e arejada numa cidade do interior. Na sala, haveria um sofá vermelho. As paredes teriam quadros, os quadros que ela pintou e de vez em quando pintava ainda. Haveria uma biblioteca, onde, antes das crianças nascerem e depois que elas se fossem atrás das suas próprias vidas, os dois passariam as tardes, principalmente aquelas regadas com chuvas de verão.

Na cozinha, fariam pão e dançariam passos desconjuntados, num eterno ensaio do que fariam um dia desses rodopiando no salão. Não teriam cachorro nem gato; talvez um peixe que gostasse quando tocassem o piano da sala.

Nada disso, porém, cabe mais nas novas casas da cidade reconstruída. As ruas serão outras, ninguém terá sofás vermelhos. Enquanto as casas não ficam prontas, tomam chuva, passam frio e acordam molhados de orvalho com o sol nascendo. Quando tudo estiver em pé outra vez, haverá uma festa, planejam os detalhes da comemoração mas nem sabem se viverão até lá. Vivem de esperança de que a vida será boa outra vez, mas não igual ao que era antes.

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