sábado, 3 de junho de 2006

Viajar

"Toda estrada leva a algum lugar
mesmo quando não seja onde se quer ir" (Sérgio Pimenta, Viajar)

Ele não sabe muito bem o que irá fazer durante um mês inteiro, o que o aguarda em seu destino. A única coisa que ele tem certeza é de que vai. Talvez volte animado, pronto para recomeços e novos projetos. Talvez fique lá, quem pode dizer o que será de nós quando o dia chegar, isso se a noite der passagem?

A estrada vai para o norte, mas não o norte que ele queria conhecer. Vai para um norte onde parece que ninguém mais enxerga matizes, sombras e espaços abertos. Mas é algum lugar, e por isso pega a estrada sem culpa nenhuma, pois não tem precisão de voltar. E, é bem verdade, não tem nem necessidade de ir também, mas faz da estrada o rito de passagem, o intervalo entre um lugar e outro, a travessia que liga o ontem e o hoje que virá depois. Vai com a mala um pouco cheia do que ele é, e um pouco vazia, que é o espaço do que ele vai ser.

No seu destino, ele não é amigo do rei, apenas do mendigo que vai dividir com ele a comida que tiver, um pedaço de chão e a janela para o mundo. E ambos sairão pela noite em busca deles mesmos, como se quem eles realmente são está sentado em algum bar que não sabem qual é, e vasculharão a cidade, e sentarão na calçada quando cansarem de procurar a si mesmos, e voltarão rindo das outras pessoas que viram.