domingo, 6 de março de 2005

Coisas boas da vida

Nada como trabalhar num domingo de sol, uma semana depois de ter a sua vida virada pelo avesso. Sem nenhum plano objetivo para o futuro que não sentar e ver o que acontece, ele se divide agora em coisas que devem ser feitas e coisas que podem ser feitas para passar o tempo. Exemplo principal: estas mal traçadas linhas, que ele desistiu de escrever e repassou a tarefa para a voz. Diz que, além de não ter planos, anda sem idéias novas porque está aprisionado nos últimos quatro anos.

Eu não o culpo, porque, sendo parte dele, também me ressinto dos caros e fundamentais alicerces que o sustentavam. Nada muito digno de nota, mas essenciais para conseguirmos suportar a nós mesmos. Sozinhos, fica muito difícil acreditarmos na importância das nossas próprias vidas. Nós dois, pelo menos, só acreditamos em nós quando nossa existência é capaz de produzir de afetar, de preferência positivamente, alguém por aí.

Mas o galho é que esta voz também não vai conseguir remendar nada, até porque toda voz precisa de um ouvido para eventualmente ser eficaz. Esbarramos, então, no mesmo problema que nos trouxe até aqui, que é a falta de quem ouvia a voz e compreendia o dono da voz. Concordemos que não há solução possível para esse impedimento, a não ser que a peça que precisamos retorne, por sua livre e espontânea vontade. Impedidos de fazer aquilo que nos define, de viver através da alegria dos outros, como ficamos? Devemos sair em busca de novas platéias, como palhaços do circo? Ou abandonamos a trupe para nos transformarmos em quem não somos?

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