quinta-feira, 14 de julho de 2005

A voz falando outra língua

Aos poucos, esta voz, contaminada pelos sons artificiais do inglês que era captado incessantemente pelas orelhas, foi se descobrindo também capaz de produzir, ainda que com sons imperfeitos, aquela fala estranha, diferente da que nasceu para pronunciar. Começando num sussurro, ela vociferava cada vez mais alto, mais segura da sua capacidade de se fazer entender e de recriar, sempre que preciso, a mágica da comunicação dos desejos e necessidades do dono da voz. Às vezes consciente, outras nem tanto, dos erros gramaticais e de pronúncia que vai cometendo, a voz segue mesmo assim, entrando nas lojas, caminhando nas ruas, perguntando as horas e pedindo licença, parecendo até que nunca falou nada que não fosse essa língua que se fala aqui.

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