terça-feira, 19 de julho de 2005

Nova Iorque (II) – 18 de junho

Nova Iorque é uma cidade sólida com chão muito mais abaixo do que pisam nossos pés. Sob nós, espalham-se túneis, estações de metrô, trilhos, galerias, e mais abaixo outros trens ainda, e coisas ainda mais subterrâneas.
Acima da terra, a solidez e a solidão dos prédios imponentes e impávidos, que se investem de eternidade como se estivessem aqui desde a fundação da ilha de Manhatan. Sobriamente enfeitados, vestidos de cinzento, às vezes de um vermelho-terra ou pardo, eles muram a cidade como se fossem os seus guardiões.

As ruas estão sempre cheias, movimentadas, brilhantes do verão que chega para reinar sobre os parques todos da cidade. As crianças brincam e correm desesperadamente, enchendo-se da luz que faltou durante os meses frios do ano, pulando de um lado para o outro como pardais agitados. Há toda uma celebração de boas-vindas a esse sol que me ofusca, enchendo a folha de papel de um branco que grita como as crianças: há gente tocando e cantando pelas ruas e nos parques, museus que escancaram suas portas, chamando as gentes para ver o verão nas telas dos quadros com a bênção fresca do ar condicionado, atores que usarão o sol para iluminar-lhes o palco em que serão representadas outras histórias de verão.

Ele se cala e observa todas essas cerimônias, anotando qualquer coisa no seu caderno. Quando se cansa, lê o livro que carrega sempre. E assim os dias vão seguindo na grande parada dos dias de verão, em que exibem a vital claridade que se orgulham tanto sem darem sinal de que, em algum momento, tudo vai se recolher novamente às casas aquecidas e acarpetadas, onde os meninos ficarão com os narizes grudados na janela jogando com os seus olhares ansiosos um pouco de cor nas ruas cinzentas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário