segunda-feira, 11 de abril de 2005

A sede e as águas de Mara

Saindo pelo deserto, o dono da voz caminhou. Não é a primeira vez que ele caminha pela terra rachada do sertão. Cresceu sobrevivendo bebendo água de mandacaru, um cangaceiro sem bando, um Lampião sem Maria Bonita. Depois de muita peregrinação, o dono da voz alcançou a região onde a terra era macia. Ali, todos feriavam, não porque a terra não desse trabalho para ser cultivada - ainda era preciso arar a terra, regar as mudas, podar as árvores de frutos proibidos ou não -, mas porque era uma terra onde havia alegria, havia vinho e festa.
Mas depois, o clima endoideceu, os rios deixaram de refrescar o solo. A colheita foi perdida, o vinho azedou. Veio a fome, a sede. Água, só o que sobrou no fundo dos poços, uma água salobra, amarga. Águas de Mara, impossíveis de serem bebidas.
Algum dia desses, Deus há de apontar uma árvore, que o dono da voz lançará nessas águas, e elas serão boas de beber outra vez.

(paráfrase de Êxodo 15:22-27)

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