terça-feira, 11 de outubro de 2005

Da validação da fila como modelo para o estudo sociológico

Estava o dono desta voz que lhes fala na famigerada fila do Consulado dos EUA em São Paulo para conseguir o visto adequado para participar de um congresso. Filas são locais (ou eventos?) privilegiados para a observação sociológica, como se verá a seguir. Ali na fila do consulado, havia uma excelente amostra da malfadada elite, aquela que o presidente jura ser culpada pela greve de fome do bispo da Barra, dom Luiz Flávio Cappio. Elite da qual fazem parte você que tem acesso à internet, o bispo, o presidente, o dono da voz e, por extensão, a própria voz.

O espécime mais interessante era, sem dúvida, um caipira-country vindo direto da Festa do Peão. Com chapelão, botina e uma imensa fivela prateada, o cowboy destoava no meio daquele mar de civilidade urbanizada que era a fila. O vendedor de guarda-chuvas proporcionou alguma diversão à elite entediada gritando a cada cinco minutos para o cowboy "Tião", que deve ser personagem dessa novela que se passa em Barretos, uma cidade do estado da Flórida. "Compra um guarda-chuva, Tião!"

Sabe-se que a característica principal da elite é achar que tem mais direito do que o resto do mundo. Essa "qualidade" era manifesta nas reclamações contra a demora e o "absurdo" de serem obrigados a passar por aquela humilhação para entrar nos EUA. Duas mulheres que tinham sido, por algum motivo, impedidas de entrar reclamavam indignada seus direitos de não voltar à fila mais tarde.

Outras duas representantes da espécie estavam bem na frente do dono da voz. Quando o segurança do consulado veio remanejar a fila para fazer o milagre da multiplicação do espaço, elas delicadamente se apresentaram como procuradoras do Estado e, imbuídas desse cargo divino, respeitosamente requeriam um atendimento privilegiado. Ou queriam furar a fila, diria o vendedor de guarda-chuvas, que continuava oferecendo seus produtos ao Tião. O segurança era bem treinado: atendimento preferencial só para idosos, gestantes e defiicentes físicos.

Se o melhor do Brasil são os brasileiros, ficam eleitos o vendedor de guarda-chuvas e o segurança do consulado, que explicou as regras básicas da ordem do atendimento às procuradoras, os melhores dentre as melhores coisas do Brasil.

Nenhum comentário:

Postar um comentário