domingo, 11 de setembro de 2005

O vazio da espera

A voz está calada. Não que lhe falte o que dizer, mas é que nada agora importa senão como a espera desses dias se resolverá. Há uma tensão contínua entre a vida e a morte, uma queda de braço que já dura tempo demais. É impossível prever o resultado: às vezes mais para a morte, às vezes mais para a vida. Até as últimas notícias, ia mais para a morte do meu avô.

Essa espera é vazia, silenciosa como o quarto da UTI onde meu avô aguarda, sedado, o desfecho. Ele, na verdade, não aguarda, luta, surpreende-nos sempre que a morte estende sobre ele a sua sombra. Quem aguarda somos nós, que não podemos nada além disso. E é só essa vontade de segurar a vida que ele tem que impede que esta seja a crônica de uma morte anunciada: por pior que as coisas estejam, quem está naquela cama ainda é meu avô, que, só nesses últimos dias, sobreviveu a uma pneumonia, uma tuberculose, à hemorragia no pulmão e uma cirurgia para retirar o lobo que sangrava.

Nós aguardamos aqui, vô. Que Deus lhe seja por companhia, pelo menos quando não podemos entrar no quarto.

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